T2:E3 Taxas de Juro, Créditos e Poupança

Olá a todos, eu chamo-me Luís Lourenço, e vamos então começar o episódio de hoje do Podcast Watch Your Money, o 3º desta segunda temporada.  

Hoje vamos falar do novo aumento da taxa de juro de referência (conhecida por Euribor) anunciado pelo Banco Central Europeu na semana passada, e de alguns impactos para as pessoas, nomeadamente ao nível dos créditos e das poupanças. E sobre os novos créditos em especial quero falar sobre a temática da taxa fixa ou variável, porque tenho ouvido várias opiniões contrárias à minha e quero deixar aqui a minha visão. Vamos lá então. 

A Euribor fixada pelo BCE é a taxa a que os bancos usam para se financiarem junto do BCE. Com este último aumento, esta taxa ficou agora em 3%. Ora como é bom de entender, se os bancos se financiam mais caro, têm que passar a financiar também mais caro os seus clientes. E o impacto direto disto no bolso das pessoas e empresas, é o aumento do custo das prestações dos créditos que tenham, e que estejam indexados a esta taxa de referência a Euribor. 

Só para termos uma noção mais clara daquilo que tem estado a acontecer com a Euribor, basta dizer que desde julho de 2022, ou seja há pouco mais de 6 meses, o BCE já aumentou o valor desta taxa em 3%, ficando assim no valor mais elevado dos últimos 15 anos. E novo aumento foi já anunciado pela presidente do BCE Christine Lagarde para o próximo mês de março.  

Ora, mas porquê esta fúria aparentemente desenfreada de aumentos de taxa de juro? De uma forma muito simples, é porque esta é a fórmula que é considerada a melhor para reduzir o valor da inflação. E a lógica é simples: o aumento das taxas de juro torna o acesso ao dinheiro mais caro, em consequência disso as pessoas e as empresas têm menos dinheiro disponível, portanto consomem e investem menos, e, em consequência disso os preços descem para atingir o ponto de equilibro entre a oferta e a procura. É preciso que as pessoas compreendam uma coisa, que por vezes é difícil de compreender e aceitar: só se consegue evitar o aumento continuado de preços fazendo diminuir a procura ou aumentando a oferta. Porque é que, por exemplo, os preços das casas não param de aumentar de forma astronómica nos últimos anos? Simplesmente porque há mais procura do que oferta. E se está a pensar que também é por os materiais (e outras coisas) terem ficado mais caros devido à guerra na Ucrânia, eu peço-lhe que pense no caso dos arrendamentos, em que se observaram aumentos iguais ou até maiores que nas vendas de casas. Bom, mas isto levava-nos a outras discussões e, portanto, vamos direcionar a conversa para o tema das finanças pessoais em concreto. 

O que isto (o aumento das taxas de juro) significa para os créditos à habitação existentes? 

A maioria dos créditos à habitação (cerca de 90%) está indexado à Euribor, a taxa de referência que referimos atrás. E como já falei atrás, quando a taxa de referência sobe, o valor da prestação também sobe – o que já há vários anos não estávamos habituados 

Para termos uma ideia do impacto que isto pode ter num crédito à habitação, a prestação mensal de um empréstimo de 150 mil euros, indexado à euribor e com um spread de 1%, pode aumentar ao longo de 2022/2023 cerca de 160 euros. Mas se o empréstimo for de 250 mil euros, o aumento já pode ser de cerca de 280 euros. É claro que estes valores não são exatos e servem somente para dar uma ideia do tipo de variações que podem acontecer. 

É claro que para aqueles que têm o crédito à habitação com taxa de juro fixa, não existirá nenhum impacto. Isto a não ser que tenham taxa fixa somente por um período determinado e depois passe a variável, o que também pode acontecer. 

Então e o que significa para os novos créditos à habitação? 

Se o ouvinte está para contrair um crédito à habitação nos próximos tempos, o que deve procurar? Taxa fixa ou variável? Vejamos as vantagens e desvantagens: 

Taxa de juro fixa: 

  • Principal vantagem: estabilidade e segurança, porque você sabe exatamente quanto vai pagar para sempre. 
  • Principal desvantagem: no momento do contrato é sempre uma taxa mais cara do que a taxa variável, ou seja, a indexada à Euribor. 

Quanto à opção pela taxa de juro variável (indexada): 

  • Principais vantagens: no momento de celebração do contrato esta taxa é sempre mais barata que a fixa. Além disso, é uma taxa que tende a ser baixa e estável em situações de estabilidade económica. E tudo indica que, ao longo de todo o tempo do contrato de crédito, serão muito mais os períodos em que esta taxa é vantajosa do que o contrário. Isto partindo do princípio que os ciclos económicos se repetem ao longo do tempo, o que tem sido a realidade ao longo de várias dezenas anos.  
  • Principal desvantagem: as prestações estão sujeitas às variações do valor do indexante Euribor e poderão alterar todos os 3 ou 6 meses (consoante o contrato siga a Euribor a 6 ou a 3 meses). Ou seja, se as pessoas não fizerem uma boa gestão financeira e estiverem endividadas até aos seus limites, poderão vir a passar por enormes dificuldades, nomeadamente não terem qualquer hipótese de conseguirem continuar a pagar a casa. 

Mesmo assim quero dizer-lhe uma coisa: se estiver numa situação de aflição para conseguir pagar a sua casa, veja muito bem todas as possibilidades que tem ao seu alcance para evitar ao máximo vendê-la. Nem que isso passe por alugar um quarto, ou até a cada toda e ir viver para outra casa mais barata ou até de familiares. Vender uma casa quando se está com a corda na garganta é a pior altura para o fazer. Faça o seu melhor para conseguir passar pelas dificuldades atuais sem vender a sua casa. Depois de recuperar uma situação mais normal, vai sentir-se satisfeito. Lembre-se que uma casa é um ativo e um ativo que na maioria dos casos valoriza sempre. E além disso pode ser fonte de rendimento se a alugar. 

  

Voltando ao tema da escolha entre taxa fixa ou variável. Quando estiver a celebrar um crédito, lembre-se que os bancos protegem o seu lucro sempre da melhor forma possível. Assim, dificilmente lhe iriam propor um valor de taxa de juro fixa que, a longo prazo, lhes pudesse ser mais prejudicial que o resultado possível com uma taxa variável. Mas em teoria… poderia acontecer? Podia! Mas acredite que a probabilidade é muito baixa.  

E em relação às poupanças? 

Ao contrário do que se passa com os créditos à habitação, não se esperam aumentos significativos nos ganhos obtidos com os depósitos a prazo (ou similares), mesmo com as dicas dadas aos bancos pelos bancos centrais para aumentarem a remuneração dos depósitos.  

Os depósitos existentes, como não estão indexados a nenhuma taxa de referência, continuarão a pagar o que foi contratado no início. 

Quanto a novos depósitos, pode vir a haver um pequeno aumento na taxa de juro que é paga, mas não se prevê que seja nada de significativo. Continuarão a ser opções de rentabilidade muito baixa e sempre inferior à inflação (neste momento muito inferior mesmo!). A única vantagem que apresentam é terem um risco associado praticamente inexistente. 

Para quem é adepto de não correr nenhum risco com investimentos, o momento é bom para espreitar os certificados de aforro, que têm uma oferta indexada à Euribor. Neste momento pode ser bastante interessante. Talvez mesmo a melhor opção para quem não quer correr o risco de perder parte do dinheiro que investe. 

E pronto, chegamos ao final deste episódio. Lembre-se que se não for você a tomar conta do seu dinheiro, ninguém o fará por si. 

Obrigado e até para a semana.  

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