T2:E13 Vivemos em Portugal – O que fazer?

Olá, seja bem vindo ao episódio nº 13 da 2ª temporada do Podcast Watch Your Money. O meu nome é Luís Lourenço, e trago-lhe um novo episódio, habitualmente às 2as feiras, onde lhe falo sobre um ou mais temas que foram notícia recentemente, e faço a relação desses temas com a sua vida financeira pessoal.   

Quero começar por pedir desculpa por não ter emitido o episódio da semana passada, mas confesso que não me foi mesmo possível fazê-lo. Dou sempre o meu melhor para que não existam falhas, mas desta vez não consegui mesmo. 

Vamos então ao episódio de hoje, onde vos quero falar sobre alguns dados relativos a Portugal e fazer um pequeno ponto de situação sobre nós enquanto nação.  

Vamos então a isso. 

 

Os dados da nossa conversa 

Lembrei-me de falar sobre este assunto hoje convosco quando estava a assistir à rúbrica do Luís Marques Mendes na televisão, não ontem, mas no domingo anterior. 

Durante essa emissão, ele mostrou alguns gráficos que me despertaram a atenção. Não que digam algum de diferente de muitas outras coisas que temos visto ultimamente, mas, pela sua importância, fiquei a refletir sobre eles e decidi trazê-los para a minha conversa de hoje. 

Então, um deles dizia respeito aos salários que se ganham em Portugal, comparando com os equivalentes em outros países. Foram apresentados dados da OCDE referentes aos salários de 2 tipos de profissões diferentes, a de médicos especialistas e a de profissionais com habilitações superiores.  

Começando pelos médicos especialistas, o salário anual em Portugal é de 42,622€. No Reino Unido é de 131,799€, ou seja, +209%, o que se traduz em +89,157€ /ano ou se quiserem para ser mais fácil de entender +7,430€ /mês. Por outro lado, na Alemanha o salário anual dos médicos é de 141,273€, ou seja +231% face a PT, ou seja +98,651€ /ano ou +8,221€ /mês. Vejamos agora a Dinamarca, onde o salário anual é de 150,801€, o que equivale a +254% face a PT, ou seja, +108,179€ /ano, ou +9,015€ /mês. A seguir temos os Países Baixos com um salário anual de 155,447€, que fica 265% acima do de PT, o que significa + 112,825€ /ano, ou +9,402€ /mês. Por último temos a Irlanda, onde o salário anual dos médicos especialistas é de 174,530€, ou seja, +309% face a PT, ou +131,908€ /ano, ou se quiserem +10,992€ /mês. 

Vamos agora aos profissionais com habilitação superiores. 

Para estes o salário anual em Portugal é de 39,640€. Na Irlanda é de 63,868€, ou seja, +61%, o que se traduz em +24,228€ /ano ou se quiserem para ser mais fácil de entender +2,019€ / mês. No Reino Unido o salário anual dos profissionais com habilitações superiores é de 76,713€, ou seja +94% face a PT, ou seja +37,073€ / ano ou +3,089€ / mês. Vejamos agora a Países Baixos, onde o salário anual é de 82,426€, o que equivale a +108% face a PT, ou seja, +42,786€ / ano, ou +3,566€ / mês. A seguir temos a Alemanha com um salário anual de 82,723€, que fica 109% acima do de PT, o que significa +43,083€ /ano, ou +3,590€ /mês. Por último temos a Dinamarca, onde o salário anual é de 92,457€, ou seja, +133% face a PT, ou +52,817€ /ano, ou se quiserem +4,401€ /mês. 

Caso queiram ver estes números com mais atenção, podem consultar o blog do site da Your Money Watcher, onde a transcrição dos podcasts está sempre presente. E lá os dados até estão numa tabela, o que facilita a leitura. 

Vamos agora a outra análise, desta vez sobre o esforço fiscal face ao nível de vida dos diferentes países. A fonte desta vez é o Eurostat. 

Em 2022, Portugal é o 4º país da UE com o maior esforço fiscal face ao nível de vida das pessoas, 34% acima da média europeia. O pior país é a Grécia, depois a Eslováquia, depois a Eslovénia e depois Portugal. E quanto aos outros países? A Irlanda é o melhor da lista, com uma carga fiscal 73,6% abaixo da média europeia, e todos os outros países apresentados na comparação de salários que fiz anteriormente estão abaixo da média da UE em termos de esforço fiscal. À exceção do Reino Unido, que não aparece neste indicador por neste momento já não fazer parte da UE. 

Considerando estes dados e os anteriores, vemos uma relação óbvia que diz que quanto menor é o esforço fiscal, maiores são os salários no país em causa. Veja-se o caso da Irlanda que tem um esforço fiscal 73,6% abaixo da média europeia e depois tem um salário anual para os médicos especialistas que é 309% superior ao de Portugal. 

De volta à análise do esforço fiscal, o que é interessante notar também é a evolução verificada desde 2015. Em 2015 este indicador em PT era 9% acima da média da EU. Em 7 anos, ou seja até 2022, passou de +9% para +32%. Neste período passamos de estar poucos lugares acima da média da UE para passar estar a num dos lugares de topo – ou seja, os piores. 

Passemos agora a outro indicador, o da produtividade real do trabalho por hora. Estes dados retirei eu próprio do site da Pordata, há uns dias atrás.  

Ora segundo este indicador, Portugal está na cauda dos países da união europeia, com a 3ª pior produtividade real por hora de trabalho, só melhor que a Polónia e a Letónia. Adivinhem quem são os 3 melhores países deste ranking. A Dinamarca, a Alemanha e os Países Baixos. Ou seja, aqueles que têm alguns dos salários mais elevados comparados com os de Portugal, conforme demonstrei atrás. Mas continuemos. Vejamos agora o que se passa com a evolução da produtividade entre 1995 e 2022. Nestes 17 anos a produtividade real por hora de trabalho em PT melhorou 118%, o que à primeira vista parece bom. Mas o que se passou por exemplo na Polónia e na Letónia, os tais 2 únicos países que estão pior que nós? Então no mesmo período a Polónia melhorou a sua produtividade real em 279% e a Letónia melhorou 417%. Ou seja, nós melhoramos 118%, mas os únicos que estão pior que nós melhoraram 279% e 417%, respetivamente. E já agora, sabe o que aconteceu com aqueles que estão logo acima de nós, que são a Hungria e a Croácia? A Hungria melhorou 212% e a Croácia 204%. 

E só por curiosidade, quer saber quanto melhoraram no mesmo período a Dinamarca e Alemanha, que estão no topo da tabela da produtividade real por hora de trabalho? A Dinamarca melhorou 144% e a Alemanha 104%. Ou seja, mesmo os países que já tinham um nível de produtividade muito elevado, conseguiram continuar a melhorar quase ao mesmo nível que nós, que tanto tínhamos e continuamos a ter para melhorar.   

Onde é que isto nos deixa? 

Bom, então onde é que isto nos deixa? Como já disse aqui várias vezes, eu nunca faço comentários políticos. Mas faço comentários económicos, esses sim, porque têm impacto nas finanças pessoais das pessoas.  

E que comentários me merecem os dados que apresentei atrás? Bom, como devem calcular não podem merecer comentários positivos. Estamos nas piores posições dos estudos que apresentei, e prestes a ser ultrapassados em termos de produtividade por aqueles que neste momento ainda conseguem estar pior que nós. 

E em relação às suas finanças pessoais? Como é que isto nos deixa? Deixa-nos mal, porque não podemos ter bons salários, se temos uma das piores produtividades da União Europeia, e não podemos ter finanças saudáveis e de qualidade, com um dos piores níveis de esforço fiscal da união europeia. E isto tem naturalmente um impacto muito negativo nas finanças pessoais das pessoas. 

Bem, e sendo assim, vamos nos queixar de quê ou de quem? Dos governos? Das políticas económicas, que não há dúvida que foram um desastre e continuam a ser? Há um ditado antigo que diz que cada um tem o que merece, e portanto, se é isto que temos, provavelmente é isto que merecemos. 

E daqui tiro uma conclusão que é ao mesmo tempo uma sugestão: se queremos ter algo de diferente para o nosso futuro e para o futuro dos nossos filhos, então como diz o ditado temos que o merecer.  

E merecer como?  Para mim, evoluindo mais, desenvolvendo-nos mais, trabalhando mais e melhor, exigindo mais de nós e dos outros (nomeadamente de quem toma as decisões económicas), fazendo melhores escolhas em vez das escolhas mais confortáveis… e por aí adiante. 

E, se assim for, talvez alguma vez possamos sair da cauda da europa e passarmos a ter todos umas finanças pessoais melhores. 

E pronto. Era isto que tinha para lhe dizer hoje. Não sei como é que a maioria das pessoas consegue olhar para os dados que lhe apresentei hoje e continuar resignada. Muito obrigado pela sua presença e cá estarei para a próxima semana! 

Luís F. Lourenço 

Financial Life & Business Coach  

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