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Olá, seja bem vindo ao episódio nº 12 da 2ª temporada do Podcast Watch Your Money. O meu nome é Luís Lourenço, e todas as 2as feiras trago-lhe um novo episódio, onde lhe falo sobre um ou mais temas que foram notícia na semana que passou, e faço a relação desses temas com a sua vida financeira pessoal.
Para temas deste episódio escolhi a entrada em vigor da medida do Iva zero para um conjunto de produtos considerados essenciais pelo governo, e depois das alterações ao valor das pensões, ambas as coisas implementadas pelo governo há uns dias atrás.
Vamos lá então.
IVA zero
Vamos então falar um pouco da medida que colocou a zero o Iva para um conjunto de produtos considerados essenciais pelo governo, que são no seu total à volta de 45 ou 46 produtos, penso eu.
A primeira coisa a dizer, e indo diretamente ao tema do impacto da medida nas finanças pessoais das pessoas, é que se trata de uma medida naturalmente positiva. São menos 6% a pagar, a percentagem de Iva que é aplicada a estes produtos essenciais, e isso é obviamente positivo, se estivermos a analisar o impacto direto no valor que é pago ao fazer compras. Agora, isto vai mudar significativamente a sua vida financeira? É fácil de tentarmos perceber isso. Imagine que as compras que faz destes produtos mensalmente é de 100€. Se for esse o caso, então a sua poupança será de 6€. Se em vez de gastar 100€, gastar 200€, a poupança será então de 12€. Se tem significado, ou não, o ouvinte dirá. Acredito que para algumas pessoas possa ter mais significado do que para outras, mas naturalmente que em termos diretos tem um reflexo positivo nas carteiras das pessoas.
Mas é preciso ter em conta uma questão que é a seguinte: ter Iva zero neste conjunto de produtos, não quer dizer que eles fiquem estabilizados nos preços que agora são praticados. Se houver aumentos ao nível dos custos de produção ou de intermediação (por exemplo, os combustíveis), naturalmente que os preços terão que aumentar para o consumidor final. Mas é claro, menos do que aumentariam se o Iva continuasse a ser aplicado. No fundo o que quero dizer é que Iva zero não significa aumentos zero. É só isso.
Mas voltando à medida. O que podem então fazer as pessoas para beneficiarem dela o mais possível, para além do impacto direto da redução de preços? Podem, por exemplo, mudar alguns dos seus hábitos de consumo. Pode ser indiferente consumir um vegetal que tem Iva zero ou outro que não tem. E se até aqui era igual comprar um ou outro (desde que o preço fosse semelhante, claro), agora pode ser mais interessante mudar, e passar a adquirir o vegetal de Iva zero. Ou seja, as poupanças para as famílias, podem passar a ser superiores à aplicação direta dos 6% sobre os bens que já consumiam, porque podem levar as famílias a passar a consumir bens diferentes e, assim, a beneficiarem um pouco mais desta medida. Mais uma vez: é uma mudança muito significativa? Em si, pode não ser, mas a mudança de mindset pode ser, porque essa tem sempre um impacto transversal em relação a muito mais coisas para além da compra dos produtos essenciais.
Seja um comprador “Smart”
Devo dizer que este tema da poupanças e da particular atenção às nossas compras é um tema em relação ao qual eu gosto de fazer uma chamada de atenção. Eu não sou uma pessoa que defende uma obsessão com as poupanças, daquelas que perdem mais tempo a ver onde podem poupar uns cêntimos, do que a investirem em si próprias ou a verem como é que podem ganhar mais. Aliás, é muito discutível sabermos o que é mais lucrativo: se é o tempo dedicado a pensar como poupar mais dinheiro ou se é o tempo dedicado a pensar como ganhar mais dinheiro. De qualquer modo, poupar pode ser muito fácil, se orientarmos a nossa forma de pensar para isso. E aí não há razão nenhuma para que não se aproveite e tire o máximo benefício disso.
O que defendo é que durante o processo de compras seja “smart” ou, em português, seja inteligente. Precisamente hoje fui às compras. E quando andava a olhar para as prateleiras vi um promoção de atum em lata que dizia leve 3 pague 2. Eu não estava a precisar de comprar atum, mas sei que por vezes consumimos atum em casa. As latas eram de uma marca e tipo de atum que habitualmente consumimos, e até estavam a um preço bom (preço antes de aplicar a tal promoção de leve 3 pague 2), e portanto decidi levar 3 latas. Ou seja, poupei 33,3% em cada lata, que é o que resulta de levar 3 e pagar 2. Com isto não quero dizer que deve aproveitar todas as promoções, pois de repente pode estar a gastar mais dinheiro do que aquele que pode (mesmo estando a poupar), mas fazer as compras de forma atenta pode resultar em boas poupanças. E isso é só o resultado de fazer compras de forma atenta e inteligente.
Faça as suas listas de compras antes de sair de casa, sim, mas depois seja flexível, sem que isso signifique mudar a lista de compras por completo. Seja flexível a ponto de aproveitar promoções que sejam boas, ou até ótimas, e de mudar produtos por outros equivalentes se verificar que tem bons ganhos associados a isso.
Para resumir, a respeito deste tema do Iva zero digo o seguinte: não é o Iva zero que vai ter um impacto grande na sua vida. Aliás acho que vai ter mais impacto negativo nos cofres do Estado do que impacto positivo na sua vida. O Iva zero pode ajuda-lo a poupar algum dinheiro mas, o mais importante, é que pode ajuda-lo a mudar comportamentos. E isso sim, já pode ter um grande significado.
Alterações nas Pensões
Agora o tema das alterações às pensões. Este tema a que eu dou muita importância. Quando no ano passado o governo apresentou alterações ao método de cálculo da atualização das pensões para 2023 eu fiquei estupefacto. Fiquei de boca aberta, face à facilidade com que se mudou uma coisa que alterava de forma drástica, para pior, as atualizações do valor das pensões a partir de 2024 e todos os anos seguintes. Ainda para mais dizendo que não se estava a alterar nada e que, em 2023, os pensionistas iam receber exatamente o mesmo valor que receberiam, se não tivesse havido nenhuma alteração ao método de cálculo. E isto porque o valor da meia pensão extra recebido em outubro de 2022, somado à atualização para 2023, dava exatamente o mesmo valor no final do ano de 2023. E sabe que mais? Eu fiz as contas e dava mesmo. O pior era a existência de um truque escondido, pois a partir de 2024 os pensionistas iam mesmo perder poder de compra, mesmo que fosse continuasse a ser aplicada a mesma formula que era aplicada até 2022, porque o valor base para o calculo da atualização das pensões a partir de 2024 seria mais baixo devido ao método de atualização utilizado para 2023.
O governo vem agora dizer que anula o que foi feito e que repõe as coisas no lugar. O que eu lhe digo é o seguinte, e nem me vou dedicar a analisar o que o governo fez ou vai fazer. Digo-lhe isto: quando for necessário o governo vai alterar as regras de calculo das pensões, ou aumentar a idade da reforma, ou reduzir os plafons máximos para pagamento, ou tudo isto em conjunto, ou até alguma outra coisa que não me esteja a lembrar. Porquê? Porque pode ser obrigado a isso (porque o sistema o fundo da segurança social não aguenta), ou porque pode optar por essa brilhante solução para reduzir a despesa do Estado. O nosso país tem uma das maiores cargas fiscais da Europa e por aí dificilmente o Estado pode ir buscar mais dinheiro. Então uma forma de diminuir o nosso défice é através da redução da despesa do Estado. E qual é uma das formas mais fáceis? É ir buscar dinheiro à classe mais frágil que existe e que não sabe ou consegue defender-se: os pensionistas.
Não confie no sistema
E para que é que lhe estou a dizes isto tudo? Só para lhe reforçar uma coisa que já lhe disse antes algumas vezes: não confie no sistema de segurança social para lhe proporcionar uma pensão digna quando atingir a idade da reforma. Isso muito provavelmente não irá acontecer para muita gente. Se ainda não tem um plano de reforma alternativo, investimentos, ou outras formas de produzir e acumular riqueza para o seu futuro, isto é uma das coisas que tem que pensar já. A estabilidade das suas finanças pessoais e, consequentemente da sua vida, estão na sua mão. Não as deixe na mão dos outros ou pode vir a arrepender-se no futuro.
E chegamos assim ao final deste episódio. Era isto que tinha para lhe dizer hoje. Muito obrigado pela sua presença e cá estarei para a próxima semana!
Luís F. Lourenço
Financial Life & Business Coach
