T2:E11 O que tem que ser dito sobre a inflação

Olá, seja bem vindo ao 11º episódio da 2ª temporada do Podcast Watch Your Money. O meu nome é Luís Lourenço, e todas as 2as feiras trago-lhe um novo episódio, onde lhe falo sobre um ou mais temas que foram notícia na semana que passou, e faço a relação desses temas com a sua vida financeira pessoal.   

Esta semana vou-lhe falar sobre inflação. Não que tenha havido algo de especial, ou de novo,   sobre este assunto na semana passada, mas porque continua a ser um tema dos mais importantes da atualidade com impacto nas suas finanças pessoais. E também porque já há algum tempo que ando para falar sobre o assunto e ainda não o tinha conseguido fazer. 

Vamos então ao episódio de hoje. 

Que expectativas para as finanças pessoais 

Há alguns dias atrás li o resultado de um estudo feito nos Estados Unidos que dizia que só 1 em cada 3 americanos tem expectativas positivas em relação às suas finanças pessoais. Embora o estudo incida sobre a população dos Estados Unidos, todos sabemos que estudos equivalentes demonstram o mesmo tipo de sentimento entre nós. 

Ora isto pode, e deve, ser interpretado logo à partida como um desastre social. O que isto representa em termos de desânimo, stress, ansiedade, e todas as outras reações relacionadas, dá origem a enormes consequências negativas e nível pessoal, familiar e social. Uma sociedade sem esperança é uma sociedade derrotada, sem energia, sem vida. E de acordo com o estudo que eu referi, estamos a falar de 2/3 terços da população. Não 10%, nem 20, nem 30%. Mas de cerca de 66% da população. 

Embora o conteúdo deste podcast seja destinado a todas as pessoas em geral, e não só às que fazem parte dos 66% que eu referi, eu tenho uma mensagem específica para estas. E a mensagem é a seguinte: gostava que tivesse presente que a esmagadora maioria das pessoas é capaz de muito mais do que aquilo que habitualmente alcança durante a sua vida. E que  a maioria das vezes só não o alcança por inércia, ou preguiça, ou falta de convicção, ou outros sintomas que decorrem quase sempre de viverem de forma pouco consciente, o que leva a fazerem muitas coisas irresponsáveis. Mas peço-lhe que saiba que a maioria das pessoas pode mudar isso, por pior que a situação atual possa parecer. É preciso que todos aqueles que estão em situações complicadas percebam isso. Se perderam – temporariamente, e eu quero reforçar temporariamente – a esperança em relação a umas finanças pessoais melhores no futuro, então pelo menos não percam nunca a esperança em si mesmos. Pois esse é o ponto de partida essencial para virem a perceber que podem mesmo ter umas finanças pessoais melhores no futuro. E atenção,  não digo isto para animar ninguém. Digo porque sei que é assim, e porque é isso que a minha experiência como financial coach me demonstrou várias vezes ao longo do tempo.

A inflação deixa todos mais pobres 

Vamos então à inflação. Lamento dizer-lhe, mas não há volta a dar. A maiorias das pessoas fica mesmo mais pobre quando a inflação atinge os níveis que atingiu em 2022. Salvo raras exceções os rendimentos não conseguem acompanhar o crescimento dos preços e, como é óbvio, as pessoas perdem poder de compra. Eu não vou entrar aqui em questões de análise económica, mas gostava de partilhar consigo o seguinte:  

Se os salários aumentassem na mesma proporção da inflação, ao contrário do que pode parecer, o resultado seria negativo. Porquê? Pelo seguinte. A inflação acontece habitualmente quanto existe excesso de liquidez no mercado, ou quando existe uma oferta escassa em relação à procura. É certo que a guerra da Ucrânia provocou a escassez de produtos essenciais e que isso levou os preços a aumentar, mas também é certo que o mercado tinha excesso de liquidez decorrente dos efeitos da pandemia e de injeções de liquidez que foram feitas no mercado para apoiar a economia.  

Acontece que, depois de alguns dos efeitos inflacionistas da guerra terem diminuído, a inflação continua praticamente ao mesmo nível, ou perto. Então o que se passa? Isto tem a ver com o excesso de liquidez no mercado. A maneira de combater isso? Por um lado pelo o aumento das taxas de juro, para levar as pessoas e as empresas a consumirem e investirem menos, por um lado, e por outro lado pela perda do poder de compra real das pessoas. Porque se as pessoas tivessem aumentos de salários ao nível da inflação, isso significaria que podiam continuar a comprar o que compravam dantes e isso não iria combater a inflação nem retirar liquidez do mercado. Pode custar a ouvir isto, mas a realidade é esta. 

Ainda há perigo de recessão? 

Outra coisa que não se fala muito. Está para haver alguma recessão? Nunca se sabe bem como é que as coisas vão evoluir. Mas pense assim: devido à inflação as pessoas estão a consumir menos e vão continuar a fazê-lo. Em consequência disso, as empresas vendem menos, e têm mesmo que diminuir as suas margens, para tentar mesmo assim vender alguma coisa. Por outro lado, reduzem ou eliminam financiamentos devido ao aumento das taxas de juro. O resultado desta situação, se se mantiver por muito mais tempo, é as empresas terem que começar a reduzir os seus custos e isso significa dispensar pessoas e diminuir produção. O que pode gerar uma tendência recessiva. 

Vai acontecer? Não sabemos. Mas o combate à inflação impõe correr um risco que é bem real.  

Vamos às finanças pessoais 

Bom então agora vamos falar das finanças pessoais e da relação com tudo o que estive a dizer antes. Deixo-lhe algumas ideias e sugestões: 

  1. Sobre a inflação, aceite com a naturalidade possível as regras do jogo e reduza realmente as suas despesas. Se, por exemplo, a taxa de inflação foi de 8% e você foi aumentado 5%, então aceite que tem que reduzir os seus gastos em 3% e faça-o. Tudo o que não pode comprar não compre. Nunca recorra a cartões de crédito ou a outros créditos. Não pode, não compre. E se mesmo que possa, pense duas vezes antes de comprar. Aproveite para reformular hábitos na sua vida. Coloque as coisas em perspetiva e pense, como se costuma dizer, “fora da caixa”. 
  1. Proteja-se contra a recessão para o caso de ela vir. Há pouco li um texto de outro especialista sobre gestão de finanças pessoais que dizia o mesmo que vou dizer a seguir. 

Ora, qual é então o maior risco associado a uma recessão? É o de poder perder o emprego, certo? O que fazer então? Em primeiro lugar faça o seu melhor para ter à mão e reforçar um fundo de emergência que lhe permita viver sem trabalho entre 6 e 12 meses. Em segundo lugar, dê o melhor de si no seu trabalho. Em situação de despedimento há sempre quem sai e quem fica. Faça por merecer estar entre aqueles que ficam. Se isso não acontecer, pelo menos não se poderá queixar de si mesmo. 

Atenção que eu não estou a dizer de modo nenhum que só perante o risco de recessão é que você deve constituir um fundo de emergência ou esforçar-se por ser um bom colaborador. Por favor, nada disso. Só estou a dizer para dar ainda mais importância a essas coisas neste momento. 

Ou seja, a inflação está aí, e não sabemos até quando, e a recessão não está mas pode vir. Então este é o momento para ser prudente e aceitar aquilo que não pode mudar. Mas há uma coisa que o ouvinte pode fazer. É encarar a situação da melhor maneira possível e tentar não só proteger-se, como até tirar o melhor partido das coisas. 

Esqueça a ideia de “direitos adquiridos” 

Termino com uma chamada de atenção. E agora vou mesmo fazer referência a um acontecimento da semana que passou, e que foi a concretização do aumento da idade da reforma em França. O mais certo mais uma vez é não gostar do que lhe vou dizer, mas eu digo na mesma, porque estou aqui para lhe falar de dinheiro à séria. E a chamada de atenção é esta: não conte com direitos adquiridos ou que as coisas vão sempre melhorar. Não vão! Eu podia explicar-lhe porquê, mas não o faço hoje por falta de tempo. As coisas podem continuar a melhorar para si, mas não por ter direitos adquiridos, isso vai existir cada vez menos. As coisas podem melhorar para si, mas se fizer por isso agora e sempre ao longo da sua vida. E se estiver sempre atento para agir conforme as circunstâncias, de uma forma natural, otimista e construtiva. 

E chegamos assim ao final deste episódio. Era o que queria dizer-lhe hoje. Espero que lhe seja útil, muito obrigado pela sua presença e até para a próxima semana! 

Luís F. Lourenço 

Financial Life & Business Coach  

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