T2:E2 A Nova Pobreza

Sejam bem vindos ao episódio 2 desta 2ª temporada do Podcast Watch You Money. O meu nome é Luís Lourenço e este é o episódio do dia 30 de janeiro de 2023.

Como sabe, neste Podcast falamos de temas que tenham sido alvo de notícia na semana anterior, e que estejam relacionados ou possam ter impacto nas finanças pessoais da generalidade das pessoas. Se ainda não ouviu o episódio da semana passada, que incidiu – não unicamente, mas principalmente – sobre o tema das reformas, sugiro que o faça, pois pode ser muito importante para si.

Bom, sem outros assuntos passemos ao nosso episódio de hoje.

Nestes últimos dias surgiram algumas notícias no jornal expresso, versão escrita e online, relacionadas com o tema da pobreza em Portugal. Eu vou mencionar 3 artigos que foram publicados sobre o tema e depois vou comentá-los em conjunto.

O primeiro vem na edição do jornal de 27 de janeiro. O título diz assim “Pagam as contas e não lhes resta nada” “Há um aumento de novos pobres”; famílias com emprego mas sem dinheiro para viver”. E depois refere que há 2,6 milhões de pessoas a viver com menos de 660 euros.

O segundo artigo vem na edição de 29 de janeiro e é sobre a escolha pelo governo de uma Sra chamada Sandra Araújo, para coordenar a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza, sendo esta uma área a que a Sra se dedica há mais de 30 anos. Uma das coisas que ela diz no artigo é, e passo a citar, “Não é aceitável que o trabalho não seja solução suficiente para não se ser pobre. Temos de acabar com isso.”

E por fim, o terceiro artigo que gostava de citar é de 20 de janeiro e pertence a Henrique Raposo. É um artigo que refere: “a miséria extrema é sobretudo a manifestação de um grupo de doenças mentais. A pobreza pode ter um tratamento ou mesmo uma cura.”

Bom, o que é que eu tenho então a dizer sobre isto? Comecemos pelas famílias que têm emprego mas que não têm dinheiro para viver. Uma coisa que temos que ter em conta é que, quando se fala de finanças pessoais, existe uma enorme latitude de casos, de fenómenos, de causas e de realidades. Não vale a pena, por isso, tentar arranjar uma explicação ou uma receita que dê para todos porque isso não existe. Há casos tão diferentes uns dos outros que não vale a pena. Portanto, se o seu caso não se enquadra no que eu vou dizer, não é por eu estar a dizer que todos os casos são iguais. É só porque não posso abordar aqui todas as tipologias.

Então sobre as famílias que têm emprego mas não têm dinheiro para viver. Vou considerar aqui 2 tipos:

1. Há famílias que têm emprego e que não têm dinheiro para viver porque ganham muito mal face ao custo de vida atual. Este é realmente um problema muito grave e difícil de ultrapassar. Vemos o custo que existe com a alimentação, energia, transportes, habitação, e ficamos realmente sem saber como é que as pessoas conseguem viver. Para mim, a solução para este problema só pode passar pelo aumento da produtividade (das pessoas e das empresas) e pela maior capacitação e aumento de competências das pessoas, de onde resulte uma maior capacidade para pagar melhores salários por parte das empresas, ao mesmo tempo que as pessoas têm melhores competências para exigir melhores condições e regalias.

Mas até isto acontecer muita coisa precisa de acontecer e, principalmente é preciso tempo. E isto mesmo que tudo o resto corresse bem.

Eu não vou entrar por este tema, porque iria começar a falar de economia e não é isso que eu faço aqui. Entre outras coisas teríamos que falar sobre o que é que está na base do aumento da competitividade das empresas (e também do seu investimento em Portugal), assim como de estratégias de valorização das pessoas. Mas queir deixar um comentário, sobre aquele artigo do expresso que referi anteriormente (acerca da Estratégia Nacional de Combate à Pobreza), que diz que ter emprego tem que ser razão suficiente para não ser pobre. À partida, esta frase faz todo o sentido. Também me parece que todos os que trabalham deviam ganhar o suficiente para não serem pobres. A questão que se coloca aqui é que parece que esta frase constitui um fim em si mesma, quando na realidade tem que ser uma consequência daquilo que eu referi anteriormente, sobre o aumento da competitividade e da valorização das pessoas. Senão como é que se faz? Obriga-se os empregadores a pagar ordenados acima do limiar da pobreza a toda gente, por decreto? E se as empresas não tiverem dinheiro? É preciso não esquecer que mais de 80% das empresas em Portugal são PMEs, muitas delas com imensas dificuldades em sobreviver e em manter os seus negócios a funcionar, para pagar os impostos e fazer face a todos os custos inerentes à sua atividade.

O problema destas pessoas que têm emprego e têm que viver com menos de 660 euros, vem de há muito tempo e é o resultado de muitas coisas que foram sendo aparentemente mal feitas. Isto é uma realidade que apareceu de repente, caída do céu. A última coisa que eu quero é entrar em políticas, mas para onde pensa que nos estamos a encaminhar com a situação que se vive no ensino? Para uma situação de melhor valorização das pessoas e da educação? Com a instabilidade e falta de qualidade que vemos no ensino, tenho receio de não estarmos a seguir essa a direção…

2. Falemos agora de outro tipo de famílias, ou pessoas, que “têm emprego mas não têm dinheiro para viver”, mas agora aquelas que até têm rendimentos razoáveis, ou mesmo bons, mas a quem não sobra dinheiro depois de pagar todas as contas. Sobre isto duas coisas:

a. Não é normal ter vencimentos razoáveis ou mesmo bons e, depois de pagar as contas ficar sem dinheiro. Isso só acontece porque muitas pessoas seguem aquele provérbio “quanto mais têm mais gastam”, e além disso vivem a copiar o que veem os outros fazer, em vez de pensarem pelas suas cabeças e tomarem as melhores decisões para as suas vidas. Além disso, a maioria não tem preparação em gestão de finanças pessoais e nem acredita que precisa de ter. Só a ideia os ofende, tão conscientes que estão que não precisam de aprender nada com ninguém sobre este tema. O que é curioso é que se assim fosse, a grande maioria deste grupo de pessoas não estaria na situação em que está. E sabe porquê? Olhe, uma das regras básicas de uma boa gestão financeira é “pagar a nós próprios primeiro”, ou seja, quando recebemos o nosso salário, antes de começarmos a gastar, colocamos de lado o que queremos poupar ou investir. E só depois começamos a gastar nas nossas despesas correntes. Assim, se chegarmos ao final do mês sem dinheiro, não há problema porque já poupámos ou investimos aquilo que queríamos. O que é bem diferente da situação da maioria das pessoas, que gasta, gasta ao longo do mês, e quando chega ao final vê que não lhe sobrou nada (e depois já não pode poupar ou investir nada). A filosofia “Pagar primeiro a si próprio” tem ainda uma vantagem extra. Em situações de emergência, como a que estamos a viver, permite-lhe ter uma almofada financeira para fazer face a aumentos inesperados do custo de vida, mesmo que isso o obrigue a poupar um pouco menos, ou até não poupar, durante uns tempos. E outra coisa: se as suas despesas não lhe permitem fazer as coisas desta maneira, ou seja, poupar à

cabeça e depois viver com o resto, então atue sobre as suas despesas e não sobre o valor que poupa. Já agora sabe quanto deve poupar? Sabe o que é um fundo de emergência e porque deve ter um obrigatoriamente? Se não sabe ou não tem a certeza, então é porque está a precisar de formação em finanças pessoais. .) Ah, pois é…

b. A segunda coisa que quero dizer sobre as pessoas, “que têm emprego mas não têm dinheiro para viver”, concretamente aquelas que até têm rendimentos razoáveis, ou mesmo bons. E tem a ver com o terceiro artigo a que fiz referência no início, o de Henrique Raposo, aquele que refere que “a miséria extrema é sobretudo a manifestação de um grupo de doenças mentais. A pobreza pode ter um tratamento ou mesmo uma cura.”. Ora bem, aqui estamos perante uma nova perspetiva, que para muitos pode ser surpreendente. Se reparou bem, o Henrique Raposo enquadra a pobreza como a manifestação e um grupo de doenças mentais. Bom, é preciso esclarecer ele não se está a referir a doenças mentais daquelas mais conhecidas por todos, como a esquizofrenia ou alzheimer. Ele está a referir-se a condicionantes mentais que têm como consequência a incapacidade de sair da pobreza. Sobre isto eu estou à vontade para falar, porque tenho alguns cursos feitos sobre este assunto no âmbito de um PhD que estou a tirar numa universidade norte americana, e tenho já muita experiência acerca destes temas. E subscrevo por inteiro as noções subjacentes ao artigo do Henrique Raposo. Existem algumas coisas com que não concordo inteiramente, mas quanto às ideias base, concordo sem dúvida. As limitações mentais estão na base de muita pobreza extrema, mas também de vidas medíocres ou médias, sem que isso precisasse de acontecer. Existem formas de alterar isso, e de fazer com que pessoas que não sabem porque razão não conseguem sair das situações em que se encontram, consigam finalmente sair de lá (e atenção que não estamos aqui a falar de graus de inteligência ou coisas desse género). Um bom coach financeiro pode ajudar estas pessoas a resolver problemas que se podem arrastar à vários ano. É importante é que as pessoas tenham um coach adequado e competente. Senão pode ser pior a emenda que o soneto.

E pronto, chegamos ao fim deste episódio do Podcast, o segundo desta segunda temporada.

Aproveito esta ocasião para partilhar consigo que o Podcast Watch Your Money está atualmente classificado na posição número 38 na categoria de “self-improvement” ou seja, crescimento pessoal, na plataforma Apple Podcasts. Para um Podcast que está neste momento no 2º episódio é obra!! Agradeço muito a quem está desse lado, pois só esta dupla participação, de quem emite e de quem recebe, permite alcançar estes resultados.

Muito obrigado e até para a próxima semana!

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