Desconfinanças – Finanças Pessoais e Desconfinamento

Se observarmos o que aconteceu ao longo dos últimos meses, o que concluímos é que a maioria das pessoas se tem comportado (face à pandemia) completamente a reboque dos acontecimentos. À ordem de confinamento todos recolhem. Segue-se a ordem de desconfinamento e todos saem e festejam como se nada se tivesse passado. Há algumas semanas atrás, por exemplo, vimos que assim que o governo inglês deu a indicação que iria permitir as viagens aéreas, o número de reservas turísticas disparou para valores inacreditáveis. O que também foi curioso foi verificar que um dos destinos mais procurados foi precisamente Portugal, na altura a braços com uma situação severa de incidência da Covid-19. Ou seja, os turistas ingleses apostaram que no futuro, ao longo de 2021, Portugal iria estar a viver um momento de recuperação da pandemia e que não haveria risco relevante em viajar para o nosso país. Uma aposta, portanto. Mas foi uma aposta também em que o próprio Reino Unido não iria voltar atrás em termos de restrições. A estas apostas devemos ainda juntar uma outra, a de que, uma vez de férias em Portugal (ou outro país), não iria haver novamente um fecho de fronteiras ou dos corredores aéreos que impedissem a volta ao Reino Unido no final das férias. Estou mesmo a imaginar estas pessoas num qualquer aeroporto a protestar e a exigir respostas para regressarem ao seu país, reclamando não haver direito de estarem retidas.

Mas porque estou a falar sobre isto? Basicamente para concluir que uma enorme parte das pessoas planeia a sua vida com base em apostas ou, também é possível, em aposta nenhuma. Simplesmente na base de que “agora pode ser”.

Esta é a realidade também em relação ao dinheiro e à gestão das finanças pessoais. Se observarmos o gráfico dos níveis de poupança desde 1960 para cá (dados da Pordata), verificamos que em Portugal nunca se poupou tão pouco como até 2018 (último ano disponível). Tirando um aumento da poupança que se verificou entre 2009 e 2013, esta tem estado sistemicamente baixa ao longo das últimas décadas. E agora pergunta-se, o que aconteceu entre 2009 e 2013? Será que é uma coincidência ter sido precisamente o período da última crise económica (conhecida pela crise da dívida soberana)? É claro que não! A verdade é que quando há crises as pessoas poupam mais, quando não há gastam o que têm e o que não têm. E depois o que acontece é que, perante um imprevisto como foi o início da pandemia da Covid-19, ao fim de 2 ou 3 semanas o número de famílias com pedidos de ajuda ao Banco Alimentar tinha subido para valores nunca vistos. Simplesmente porque as pessoas vivem aos altos e baixos conforme a realidade se lhes apresenta, sem qualquer sinal de planearem as suas vidas de uma forma consciente.

O desafio que aqui deixo é o seguinte: agora que estamos a viver um novo momento de desconfinamento, como vai ser? Vamos partir do princípio que está tudo bem e vamos desconfinar “à vontadinha”, assumindo os “velhos” comportamentos a que muitos chamam “voltar à normalidade”? Ou vamos adotar um comportamento mais consistente e regular ao longo do tempo, estando assim mais preparados para os altos e baixos que o futuro certamente nos vai apresentar mais tarde ou mais cedo?

Embora seja dos que acreditam que o futuro “a Deus pertence”, sou também dos que acreditam que a “volta à normalidade” é algo que não vai acontecer. Para mim, a melhor aposta (desta vez sou eu a apostar) é a de que a nova normalidade será a de nunca sabermos o que o futuro nos reserva e, como tal, o melhor é prepararmo-nos para saber viver nas melhores e nas piores situações.

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